Olá leitores! Eu sou o Guilherme Smee, quadrinista e pesquisador de quadrinhos, Minha função nesta coluna é avaliar o que está acontecendo nas revistas mensais da Marvel e da DC Comics, trazendo uma visão geral para quem não acompanha nenhuma delas ou apenas algumas. DC e Marvel, no Brasil, sempre tiveram números díspares de títulos regulares nas bancas ao mesmo tempo em cada mês. Fevereiro de 2023 é um desses momentos que mostram que a Marvel tem quase o dobro de títulos regulares nas bancas: oito contra quatro da DC Comics. Também se verifica que os títulos da Marvel chegaram todos antes da DC. Avante, Vingadores foi o primeiro a chegar nas bancas aqui de Porto Alegre, em meados de fevereiro, já Batman chegou em meados de março. Ambos constam no expediente como títulos referentes ao mês de fevereiro de 2023. Reflexo dos atrasos de entrega da Panini que o leitor sempre esteve acostumado. Sem mais delongas, vamos às minirresenhas.
Foi uma decisão acertada da Panini Comics Brasil (ou seria dos chefes italianos?) incluir no mix desta revista as histórias das revistas originais dos Capitães América Steve Rogers e Sam Wilson. As duas tramas começam bem e tem um desenvolvimento empolgante. Enquanto Rogers volta à ativa para descobrir um mistério envolvendo a confecção de seu escudo redondo, Wilson acaba no meio de uma missão contra uma rede de tráfico de pessoas e do soro do supersoldado. A revista também traz a continuação do crossover do Hulk com Thor, que toma as proporções cósmicas e grandiloquentes bem ao gosto de Donny Cates que, para mim, exagera demais no massaveismo. (Bem, massaveismo é exagero, não?) Por fim, temos a história de Vingadores Eternamente, em que o Motoqueiro Fantasma Robbie Reyes e sua equipe recrutaram o Pantera das Estrelas, uma espécie de Superman wakandano, o último sobrevivente de uma civilização que jurou vingança contra Killmonger. Duas edições empolgantes e duas edições okay.
A Sina do X, nova fase das revistas X, veio para dar uma chacoalhada na mesmice que as histórias do Universo X-Men estavam tendo. Entretanto, o que que me deixa chateado é que cairam fora do mix da revista títulos que podem ser importantes para o entendimento de eventos futuros, tanto os ligados apenas aos X-Men como ao Universo Marvel. Políticas da Panini, fazer o quê? A revista abre com X-Men Secretos, que gostei bastante porque os personagens e suas personalidades são bem trabalhados pela roteirista Tini Howard. Depois, temos a melhor revista desta edição que é X-Men Imortais, em que a história é toda contada pelo ponto de vista do Senhor Sinistro, sobre uma votação do Conselho Silencioso. A revista encerra com X-Men Vermelho, que foca nos mutantes de Krakoa que estão em Arakko, ou seja, Marte. Essa foi a que me empolgou menos, mas me parece ter um belo potencial e é melhor que alguns títulos X, como por exemplo os X-Men de Gerry Duggan. Sina do X promete ser muito legal para os X-Men.
Muitas pessoas estavam me falando que essa nova fase do Homem-Aranha estava muito ruim, mas quando li a edição anterior não havia reparado tanto. Mas nessa edição pude perceber que tanto os roteiros de Zeb Wells não decolam - remando numa guerra de gangues em Nova York (eu odeio histórias com guerras de gangues, são as mais chatas em geral) -, quanto os desenhos de John Romita Junior estão longíssimo de sua melhor forma. Já o número desta edição referente à minissérie Limites do Aranhaverso, que na edição anterior foi bastante divertida, nesta edição não foi nada divertida. Apresenta uma história sem nexo do Homem-Aranha Indiano, depois a história de origem da Aranha Noturna, mistura de Homem-Aranha com Gata Negra e, por fim, a pior história das três, a da Sakura-Aranha, que foi apresentada no mangá Deadpool Samurai. Será que a ruindade que profetizaram que eu iria encontrar nessa revista está realmente me encontrando?
Esta é a última edição de Wolverine a comportar as minisséries As X Vidas de Wolverine e As X Mortes de Wolverine e, embora estejam interligadas, é possível perceber que uma delas é melhor que a outra. Enquanto uma relata uma perseguição através dos tempos entre Wolverine e Ômega Vermelho, a outra mostra a - com o perdão do trocadilho - sina de Moira MacTaggert em se tornar uma irascível vilã dos X-Men. A segunda trama é melhor, avança mais e é mais bem resolvida, embora eu prefira a arte de Joshua Cassara na perseguição. Completa a edição um especial de Wolverine, chamado no Brasil de Trespassado, que compila três histórias de diferentes fases do baixinho peludo e invocado. A primeira, por Larry Hama e Scot Eaton narra o período em que Logan era prisioneiro da Arma X. Já a história de Claremont e Larroca, remonta à publicação da minissérie Wolverine e Kitty Pryde. Por fim, Sam Kieth retoma o crossover de Howlett com Venom. Fora a história sem nexo e os desenhos ainda mais esquisitos de Kieth, as outras histórias são boas. O gibi se encerra com uma história de duas páginas em que Wolverine encontra a Morte. Essa é totalmente dispensável.
Donny Cates continua, ao lado do talentoso desenhista Martin Coccolo, a desenvolver o crossover entre Hulk e Thor, intitulado Banner de Guerra. E adivinha: ele fez o Thor hulkficar. Uau, superoriginal, Sr. Cates! Tá bem complicado acompanhar essa criatividade do Cates que alguns adoram os roteiros. Em seguida, temos uma história dos Vingadores de Um Milhão Antes de Cristo e que explicam a tal história de que a Fênix seria mãe do Thor. E olha, até que me convenceu bem, Sr. Aaron. O mesmo escritor é responsável por uma história em que Jane Foster é tentada por contrapartes de Mefisto a ter uma vida como dona de casa e esposa de Thor. Nessa narrativa, Aaron também se sai bem, criando uma tensão nova e dilemas para Jane Foster como Valquíria. Na história do Homem de Ferro, ele enfrenta um terrorista que atacou um voo comercial. Uma história competente, mas bastante comum em geral. Por fim, temos uma história meio bobinha adaptando a lenda nórdica do casamento de Thor. O mix, em geral, está bom, mas é engraçado que sempre tem uma ou duas histórias mais fracas.
Interessante como Fred Van Lente conseguiu fazer interessante e menos belicista a origem do Homem de Ferro para a linha Aventuras Marvel. Ele retira toda e qualquer temporalidade de Guerra (Vietnã, Irã, Afeganistão) para mostrar que Tony Stark é capturado pela I.M.A. após testar um veículo que não necessita de combustível para dar a volta ao mundo. É ao lado do professor Yinsen que ele constrói sua primeira armadura do Homem de Ferro e, com ela, vira super-herói. Uma historinha bastante divertida levando em conta ser uma trama do Tony Stark nos quadrinhos. Também nesta edição outra historinha bem divertida, do Homem-Aranha que se encontra com o Tocha Humana, para primeiro enfrentarem o Rua (!) e depois Goom, um monstro vindo da Zona Negativa, mas que tem origem nos monstros da Atlas, de Lee e Kirby. O segundo volume de Aventuras Marvel trouxe histórias para todas as idades que são até melhores que muitas revistas das publicações de linha dos super-heróis.
Mesmo que eu não curta em nada a arte deste novo quadrinho do Super Choque e ache que ela traz uma dificuldade de entendimento das cenas e das expressões dos personagens, principalmente devido à combinação do traço com a colorização, o roteiro de Vita Ayala é competente. É muito legal ver que os personagens da Milestone, uma editora fundada e exercida apenas por pessoas negras, finalmente chegaram ao Brasil (em mais de uma edição, porque a Magnum já publicou Black Force #1 nos anos 1990). E faz isso com uma série contínua do personagem negro e super-herói mais amado pelos brasileiros, que é Virgil Hawkins, o SuperChoque. Percebi que muitos amigos meus que são negros celebraram para valer a aparição dessa revista nas bancas de revistas brasileiras. Por muitos anos a Panini Comics Brasil relegou os personagens negros dos super-heróis a um local escondido nas suas publicações, isso quando publicava. É preciso lembrar que a população do Brasil, diferente da Itália, é formada por uma grande maioria preta, ou seja, de negros e pardos, e que assim como os LGBTQIAPN+ clamam por mais representação nos quadrinhos. É preciso uma virada de chave na editora para entender e perceber isso…
Philip Kennedy Johnson vem fazendo um trabalho consistente no Superman, levando Kal-El para as profundezas do espaço, ao lado do Authority na Saga do Mundo Bélico. Ao mesmo tempo, Tom Taylor também mantém a consistência com o filho, Jon-El, em sua revista em que ao lado da Resistência e de seu namorado Jay Nakamura enfrenta o ditador de Gamorra Henri Bendix associado ao megacapitalista Lex Luthor. Percebe-se que as histórias avançam no que se propõe. Diferente das HQs de Brian Michael Bendis que aparece novamente nessa revista para tocar o encontro entre a Liga da Justiça e a Legião dos Super-Heróis. As histórias de Bendis dão uma sensação de algo estanque, que não muda e não avança num ritmo devido. Acabam ficando chatas, como esse primeiro número dessa minissérie. Encerra a revista uma história curta do Superman de Um Milhão de Anos no futuro, em que presta uma homenagem ao Caçador de Marte, conhecido pelos mais velho como Ajax, o Marciano.
Temos, nesta terceira edição de Batman/Superman: Os Melhores do Mundo, uma história muito boa e uma história muito ruim. Acho que vocês já podem adivinhar quais são. Mas vamos lá. A história muito boa é a do título principal, escrita por Mark Waid e desenhada por Dan Mora, que além de tudo dá um destaque muito legal para o Robin Dick Grayson e para a Supergirl, que performam uma dupla nada dinâmica, mas sim, rival. Ponto positivo. A história muito ruim, só podia ser a encheção de linguiça que a Panini Comics Brasil faz com essa revista que é a de inserir histórias da antologia Batman: Urban Legends nela. A história da vez é um encontro de Batman com Aquaman e Mera, no que parece ser um contexto da Era de Prata da DC Comics, mas que em momento nenhum é referenciado na revista. Uma história que, sinceramente, não precisava existir. Ponto negativo. E assim a revista se equilibra na média.
Finalmente li a tão incensada fase de Chip Zdarsky no Batman ao lado de Jorge Jiménez. Preciso dizer que não acho os roteiros de Zdarsky assim tão especiais como muitos comentadores de quadrinhos avaliam. Ele é um pouco acima da média, certamente, mas não é essa Coca-Cola toda. Os desenhos de Jiménez, que me agradavam muito, nessa HQ se tornaram sombrios demais e quase irreconhecíveis do estilo dele em Superfilhos, uma pena. Na trama, o Pinguim acaba morrendo após um atentado que também ameaça a vida de Robin, Tim Drake. Contudo, as histórias de backup da Mulher-Gato, também escritas por Zdarsky foram as que chamaram mais a minha atenção e tem a ver com o testamento do Pinguim. Por fim, temos a estreia do indiano Ram V e do brasileiro Rafael Albuquerque em Detective Comics trazendo uma história de uma Ópera endemoniada e trazendo de volta também o polêmico deus-morcego Barbatos, de Noite das Trevas: Metal, criado por Scott Snyder. Fica a questão se Ram V conseguirá deixar o monstro mais interessante. No fim das contas, o carro-chefe do título foi a parte que menos me pegou.
Essas foram minhas impressões sobre as revistas mensais de fevereiro de 2023! Espero que tenha curtido essas análises e aguardo você aqui mês que vem! Ah, não deixe de comentar suas impressões também, se quiserem bater um papo sobre quadrinhos é só chamar no @nerd_vintage!